Infecção Urinária

A infecção urinária é o segundo motivo responsável pela ida da mulher ao ginecologista no pronto socorro, só perdendo para os corrimentos genitais. Realmente é uma urgência clínica, não só pela dor e desconforto causado como também pela possibilidade de complicação diante dos casos de negligência do tratamento.

Só conseguiremos ter a real dimensão do desconforto da infecção urinaria após termos experimentado algum episódio durante a vida. Recentemente experimentei um episódio de infecção urinaria e pude constatar quão desagradável e perturbador um simples episódio pode ser no dia a dia das mulheres. Dentre os sintomas principais os mais evidentes são a dor ao urinar, associada a irritação da bexiga com aumento da frequência de idas ao banheiro. Apesar do aumento da frequência a sensação de esvaziamento incompleto da bexiga é muito presente, com dor no canal uretral muitas vezes também após a micção.  Muitos são os mitos que prejudicam não só a condução como a prevenção adequada dessa condição.  Mas nada como a informação certa.

Segue algumas perguntas frequentes do consultório:

Preciso beber água para evitar infecção urinária?

No cenário da infecção urinária com certeza muitos se depararam com a seguinte afirmação: “isso acontece porque você não bebe água” Será que isso é uma verdade? Para responder essa pergunta precisamos compreender como ocorre a infecção urinária nos bastidores do nosso organismo.

Diferentemente do que pensávamos o interior da nossa bexiga não é estéril! É surpreendente, mas temos sim bactérias no interior da nossa bexiga, “bactérias do bem”, que estão simplesmente habitando lá, sem causar qualquer processo de doença. São chamadas de microbioma da bexiga. Já as “bactérias do mal” são denominadas de uropatógenos, e estas sim são responsáveis pela infecção urinária sendo habitualmente provenientes da vagina ou do reto.

Os uropatógenos para causarem a infecção urinária precisam “escalar” todo o canal uretral; vencer o sistema de defesa local; combater as outras bactérias que já estão por lá, e só então invadir e se instalar no tecido. Quando ingerimos o volume adequado de água o trato urinário é lavado com maior frequência, dificultando essa “escalada” e implantação. Portanto não basta apenas beber água, mas precisamos também urinar com intervalos regulares!

Vale a pena lembrar que os uropatógenos levam pelo menos 4 horas para “escalarem” o trato urinário e se instalarem na bexiga, logo esvaziar a bexiga de forma mais regular pode dificultar a vida dessas bactérias!

Água é bom, mas sem excessos!

Voltando ao assunto beber água, é necessário ter atenção para um detalhe: Água é bom, mas sem excessos! O excesso de água pode ser prejudicial. A urina muito diluída tem redução importante da sua acidez, o que por fim acaba por dificultar o combate dessas bactérias do mal que estão tentando invadir o nosso tecido.

Muitos afirmam que a quantidade ideal de água a ser ingerida diariamente deva ser 2 litros, no entanto devemos lembrar-nos de individualizar esse volume de acordo com o metabolismo, prática de atividade física, assim como com a temperatura ambiente em que nos encontramos. Dias mais quentes com certeza pedirão ingestão de volumes maiores do que em dias mais frios. O melhor indicador para sabermos se estamos ingerindo a quantidade certa será a observação da cor da nossa urina. Idealmente a cor da urina deve ser clara. Portanto ao longo do dia se você observar a cor da urina mais escura- beba mais água. Observou a urina muito transparente- segura a hidratação.

Na prevenção dos episódios de infecção urinária é importante sim beber água, mas no volume certo e acompanhado de esvaziamento da bexiga de forma regular.

Aproveitando a dica, quando você tomou seu último copo de água? E quando foi a última vez que urinou? Vamos cuidar da nossa saúde!

Preciso de exames para iniciar tratamento de infecção urinária?

Apesar de muitas vezes solicitarmos exames de urina para confirmar o diagnóstico, ele só é essencial quando os sintomas forem confusos ou quando as pacientes apresentarem vários episódios de infecção urinária ao longo do ano, casos estes considerados como infecção urinária complicada.

O exame considerado padrão ouro é a urocultura; através desse exame conseguimos descobrir qual é o uropatógeno e qual antibiótico ideal para matar a bactéria. No entanto, esperar por volta de 2 dias para iniciar o tratamento pode custar uma piora clinica considerável. Nos casos complicados idealmente devemos realizar a coleta da urocultura previamente ao inicio do tratamento, e ajustar o antibiótico posteriormente assim que estivermos com o resultado disponível.

A solicitação de exames rápidos pode muitas vezes confundir e adiar o tratamento, devendo ser abandonada na grande maioria dos casos.  Em pelo menos 20% dos casos esse exame pode vir absolutamente normal apesar do processo infeccioso urinário estar presente, assim como podemos encontrar alterações neste exame apenas pela presença de processos vaginais infecciosos, como os corrimentos genitais.

Portanto, levando em conta a presença de sintomas urinários como ardor, dor urinária e aumento da frequência urinária (na ausência de corrimento genital) deve-se considerar a clínica como soberana e proceder ao tratamento de forma imediata, evitando consequências piores do processo infeccioso!

Por que a todo momento tenho infecção urinária?

Essa não é uma pergunta que tenha uma resposta simples. Muitos são os fatores que contribuem para a infecção urinária de repetição. Destaque especial deve ser dada a imunidade local que pode ser influenciada também pela situação emocional das pacientes. Você já deve ter percebido isso. Momentos em que você apresentou nível maior de estresse, ou porque ficou muito preocupada com o filho, com o trabalho ou com os estudos e pronto.. lá retornou sua companheira chata- infecção urinária! O estresse aumenta os níveis de corticoides e esses possuem ação anti-inflamatória, prejudicando o combate dos uropatogenos que tentam invadir os tecidos. Portanto atividades que atenuem seu nível de estresse são bem-vindas, já que atualmente acabar com o estresse está para além de uma missão possível!!!

Alguns hábitos também auxiliam essa repetição como a ingesta reduzida de água, a demora em esvaziar a bexiga periodicamente, o intestino preso e até hábitos inadequados de higiene intima- como por exemplo o uso de duchas vaginais.

A atividade sexual também favorece a infecção urinária. A uretra sofre o trauma do ato sexual e tem prejuízo nos mecanismos habituais de defesa dos uropatogenos. O pH vaginal também fica mais alcalino pela presença do sêmen, predispondo a mudança da flora habitual da vagina, o que em última análise também favorecerá a infecção urinária. Portanto, você que é parceiro de uma mulher com ITU de repetição poderá auxilia-la na redução do número de episódios com o simples uso de condom.

Infecção Urinária e Menopausa

Outro fator que favorece a repetição da infecção urinária é a atrofia do tecido provocada pela menopausa. A baixa da produção hormonal permite que os tecidos fiquem mais delicados predispondo a invasão do mesmo. Vale lembrar que muitas vezes as alterações hormonais que reduzem a espessura desse tecido não estão presentes apenas na menopausa, mas em qualquer situação clínica em que o nível de estrogênio esteja reduzido, como por exemplo, ao longo do tratamento de endometriose.

Outros fatores menos comum de recidiva de infecção urinária são as más formações do trato urinário como, por exemplo, os divertículos uretrais ou a presença de cálculos no sistema urinário, todos eles permitindo um ”esconderijo” para os uropatogenos ficarem livres tanto do sistema de defesa do hospedeiro como da ação dos antibióticos empregados.

Como falei no início do post a infecção urinária de repetição não é uma questão simples de conduzir. Precisa sempre da avaliação do especialista e de uma boa relação médico paciente, uma vez que o processo de investigação e tratamento tende a ser prolongados, com necessidade de mudança de hábitos para maior eficiência na resolução.

O uso de Cranberry previne infecção urinária?

Em relação à prevenção da infecção urinária, o uso do cranberry apresenta recomendações limitadas. As evidências científicas são bem variadas, com estudos por vezes mostrando benefício do seu uso, porém com doses elevadas diárias, sendo necessária na maioria das vezes a manipulação do composto natural. Esta informação traz felicidade para a maioria das pacientes já que o paladar desta fruta não unanimidade em aceitação. Caso você ainda não tenha experimentado esta fruta se prepare para uma sensação um pouco estranha. Seu paladar é amargo para azedo, não ajudando muito na adesão desta terapêutica. Outro fator de dificuldade é encontrar o cranberry, já que não é uma fruta típica do nosso país. O suco de cranberry é encontrado em alguns supermercados e lojas de produtos naturais, na maioria das vezes com custo elevado. Portanto sempre a decisão do seu uso deve ser compartilhada com as pacientes.

Caso tenha ficado alguma dúvida do texto acima esclareça pelo nosso canal ou com o seu ginecologista.
Escrito por Dra Presciliana Mitrano – CRM 100.071

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