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O que é Corrimento Genital?

O corrimento genital é uma queixa muito frequente no dia a dia do ginecologista. Tão frequente quanto a sua incidência também é o desconforto e impacto na qualidade de vida das pacientes acometidas, bem como dos seus parceiros; principalmente frente aos episódios de recorrência. Os inúmeros mitos e tabus ligados a esse tema retardam não só o diagnóstico, mas também o tratamento mais adequado.

O que é o corrimento genital?

Inicialmente, consideramos corrimento genital qualquer anormalidade na quantidade ou no aspecto físico do conteúdo vaginal. Inúmeras são as causas de corrimento genital, as quais transitam desde causas infecciosas até processos não infecciosos como, por exemplo, quadros alérgicos, ou até mesmo corrimentos decorrentes de uma simples ovulação. Muitas vezes o parceiro também pode disparar quadros alérgicos vaginais devido alteração alimentar; em outras situações a simples mudança do anticoncepcional poderá levar a um sangramento do meio do ciclo, com alteração do conteúdo vaginal. Vale destacar, no entanto a grande contribuição do estresse crônico como causa principal do corrimento genital, seja por mudança da microflora habitual ou pela redução da imunidade local.

Metade dos corrimentos genitais está associada à Vaginose Bacteriana, alteração vaginal decorrente do desequilíbrio da microflora vaginal, com redução significativa dos lactobacilos e aumento de bactérias anaeróbias, com destaque da participação de alguns micro-organismos tais como a Gardnerella vaginalis, Prevotella sp, Ureaplasma sp, Mycoplasma sp. Na Vaginose Bacteriana encontramos corrimento branco acinzentado, fluido, em grande quantidade que apresenta como principal característica o odor forte, que se acentua principalmente após ato sexual e após o período menstrual.

Diante da evidente piora após o ato sexual muitas vezes o parceiro é visto como vilão da estória, mas na realidade a sua contribuição se deve a principio apenas a alteração do pH vaginal ocasionada pela presença do sêmen. Como esse corrimento está vinculado à alteração da microbiota da mulher o parceiro raramente é tratado conjuntamente, deixamos o seu tratamento apenas para os casos de recorrência.

Cerca de 20% a 25% dos corrimentos genitais estão correlacionados com a Candidíase vaginal. Dentro desse tipo de corrimento encontramos a sua grande maioria ocasionada por Candida albicans. Observamos nesses casos um corrimento esbranquiçado, em placas, aderente, de aspecto coalhado, com coceira importante, podendo também estar associado a vermelhidão e ardor para urinar. Múltiplos fatores estão correlacionados com a recorrência desse tipo de corrimento dentre eles vale destacar a alimentação rica em carboidratos, o vestiário com roupas justas favorecendo maior umidade vaginal, o uso prolongado de antibióticos, presença de diabetes descontrolada, uso prolongado de roupas de praia/piscina além de fatores pouco citados como, por exemplo, o intestino preso de muitas pacientes, por vezes associado ao reduzido consumo de água ao longo do dia. Assim como na vaginose bacteriana também não tratamos os parceiros na candidíase vaginal, exceto nos casos sintomáticos ou nas recorrências.

Infecção Sexualmente Transmissível

Em 10% a 15% dos casos de corrimento genital teremos o diagnóstico de tricomoníase vaginal. Por se tratar de uma infecção sexualmente transmissível o tratamento do parceiro nesses casos é mandatório, assim como a investigação de outras IST (infecções sexualmente transmissíveis)*. A característica que mais chama atenção nesse corrimento, além da sua coloração amarelo-esverdeada, é o grande volume do mesmo, obrigando a troca frequente de absorventes íntimos provocando grande constrangimento não só pelo volume, mas também pelo odor. Pode vir acompanhado de dor na relação sexual e ardor urinário.

Na investigação de causas não infecciosas de corrimento genital destacamos os processos alérgicos, que na sua grande maioria apresentam associação de sintomas gerais ao comprometimento vulvo-vaginal. O início dos sintomas esta correlacionado com a exposição a substâncias alergênicas que podem ser encontradas tanto na alimentação (paciente ou parceiro) quanto nos mais diferentes produtos que a paciente possa ter entrado em contato desde lubrificantes vaginais, sabonetes e desodorantes íntimos, preservativos, cremes ou ceras depilatórias até o próprio sêmen do parceiro.

Em se tratando de saúde da mulher o ciclo menstrual, assim como o método anticoncepcional utilizado, não pode deixar de ser considerado. A constatação de corrimentos de pequena quantidade, sem odor ou coceira, com coloração tipo borra-de-café em pacientes que realizaram recentemente troca de anticoncepcional sugere um sangramento de escape, sem necessidade de prescrição de cremes vaginais. Da mesma forma a observação de corrimento genital translucido, com consistência de clara de ovo está associado à ovulação. Este corrimento fisiológico apresenta duração limitada no ciclo menstrual, não constituindo motivo de preocupação para mulheres, exceto para as que estiverem utilizando método anticoncepcional hormonal, já que pode ser um indicativo de falha do método.

Independentemente do mecanismo preciso da gênese do corrimento genital é importante à adoção de medidas de prevenção e promoção de saúde para as mulheres visando à interrupção do ciclo vicioso dos inúmeros corrimentos genitais. O impacto dos inúmeros tratamentos com prejuízo econômico, emocional, sexual e por fim na qualidade de vida deve ser minimizado com medidas simples tais como a orientação e esclarecimento de fatores protetores através de um profissional de saúde qualificado. Destacamos a importância e necessidade cada vez maior de se encontrar fatores redutores ou de alivio do estresse crônico dentro da rotina do dia-a-dia; assim como a melhoria da alimentação, do vestuário e da higiene genital.

*A terminologia Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) passa a ser adotada em substituição à expressão Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas.

Escrito por Dra Presciliana Mitrano – CRM 100.071

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